A maior parte do material de ensino atualmente em uso baseia-se no primeiro desses conceitos e aproveita seus evidentes benefícios. A disponibilidade da rede de comunicação eletrônica oferece uma via extremamente rápida e ininterrupta, ligando o instrutor a um segmento em contínua expansão da audiência potencial e a fontes de informação digitalizada em rápido crescimento. Os estudantes podem ter acesso à informação e recuperá-la, de acordo com sua própria programação e seu próprio ritmo. A informação pode ser armazenada em um formato conveniente e o material do curso pode ser subdividido em “capítulos” seqüenciais e de fácil utilização. Cada usuário tem à sua disposição uma grande variedade de recursos adicionais de alta qualidade, tanto em texto como em outras formas (por exemplo, imagens e sons), que podem ser obtidos a um custo e mediante um esforço muito inferiores aos da aquisição das tradicionais “separatas” desses mesmos recursos. Além disso, textos relativamente longos e complexos podem ser facilmente atualizados e dotados de referências cruzadas, o que torna mais simples a obtenção de material de estudo atualizado.
No segundo nível de conceituação, a Web é usada para apoiar a elaboração de conhecimento, mediante o aprendizado cooperativo e a execução de tarefas em grupo (Harasim, Hiltz, Teles, & Turoff, 1995). Ligados pela Web, os estudantes – localizados em diferentes cidades e países – aprendem nos momentos que melhor lhes convêm. Eles não apenas adquirem, mas também produzem conhecimento, mediante participação ativa e estratégias voltadas para a solução de problemas. Os ambientes de aprendizado com apoio de computadores podem ser muito bem adequados à construção de conhecimento, mediante exploração, solução de problemas, colaboração entre colegas e instalação de andaimes cognitivos (Scardama-lia & Bereiter, 1994). Em tais ambientes, os estudantes podem ser estimulados a assumir papéis mais ativos na pesquisa de informações e a procurar explicações e ajuda de especialistas, mentores e colegas que estejam também ligados na mesma ocasião.
Para facilitar a compreensão do segundo nível de conceituação, ou seja, da comunicação e da colaboração por meio da rede eletrônica, é conveniente colocar a atual revolução eletrônica numa perspectiva histórica. Ao longo da história, diversas tecnologias emergiram e revolucionaram o ensino. O exemplo mais distante, o desenvolvimento da escrita, deslocou a finalidade e o conteúdo da cultura, até então oral. Por um lado, essa nova tecnologia criou a possibilidade de gerar informações permanentes e reprodutíveis. Por outro, conferiu uma “oportunidade” sociocultural a toda uma nova classe de artesãos: a dos escritores, que eram produtores mas não disseminadores de textos, ao contrário dos contadores de histórias das gerações anteriores, que combinavam ambas as funções. A separação dessas funções gerou oportunidades até então inimagináveis para cada campo e moldou o conteúdo e o processo de ensino.
Da mesma forma, o desenvolvimento da técnica de impressão, no século 15, abriu as portas à disseminação do conhecimento em estratos muito mais amplos da população, mas também colocou ao alcance dos estudiosos um acervo muito maior de obras culturais e científicas. Essa ampliação, por sua vez, veio unir – para os estudiosos da época – fragmentos de conhecimento até então isolados, como, por exemplo, os trabalhos dos filósofos gregos e dos matemáticos árabes. Cada uma dessas revoluções aumentou de maneira significativa o número e o âmbito das possíveis modalidades de instrução e criou novos caminhos para o aprendizado: tanto para a “velha cultura” (ou seja, aquela que já fora criada) como para novas matérias ou conhecimentos (ou seja, aqueles que surgiram como resultado das oportunidades inerentes à nova tecnologia). Historicamente, essas inovações tecnológicas fundamentais também deram origem a novas “tecnologias de apoio” (por exemplo, a disponibilidade de um amplo acervo de textos escritos gerou a oportunidade tecnológica do desenvolvimento de bibliotecas e catálogos) e gerou novos nichos profissionais para os especialistas nessas tecnologias (os bibliotecários, no exemplo citado).
Durante cada revolução tecnológica, sempre houve quem temesse o impacto das mudanças, bem como quem profetizasse a imediata obsolescência do passado, prevendo como única salvação possível os frutos da nova invenção. Se tomarmos a história como guia, nem Armagedon(1) nem salvação deverão provir do progresso tecnológico: a nova invenção não irá eliminar nem substituir as ferramentas e métodos de aprendizagem. Antes, ela deverá mudar o contexto e ampliar o escopo do ensino, em razão de seus aspectos peculiares. A escrita não baniu completamente o discurso nem a narração de contos, da mesma forma que a impressão e a máquina de escrever não eliminaram a escrita manual! As pessoas ainda preferem escrever à mão algumas coisas, tais como: anotações, recados pessoais, bilhetes, etc. Mas há muito tempo tornou-se evidente que a palavra impressa é a única forma adequada para a distribuição de textos em larga escala e de maneira mais duradoura, portátil e compacta.
A inovação tecnológica desloca o foco e amplia um domínio existente, cria um novo campo e usualmente resulta em uma aplicação mais refinada de ambos. Assim, o impacto educacional das inovações tende a deslocar domínios e focalizar mais estreitamente as tecnologias, mais do que a substituir uma tecnologia por outra. Em razão disso, uma visão ampla da sala de aula eletrônica no presente envolve tanto a identificação dos atributos e das dimensões peculiares do ciberespaço quanto a apreciação dos limites pedagógicos impostos enquanto os seres humanos se digladiam com o “velho” e o “novo” conhecimento.
Já se observou que os estudantes não vão mais às universidades apenas para adquirir uma bagagem limitada de conhecimentos; eles agora querem “aprender a aprender”, a renovar-se intelectualmente a si mesmos, de maneira contínua, de modo a poder acompanhar passo a passo as exigências que serão impostas ao “operário sábio” do século 21. Está previsto que uma pessoa necessitará do equivalente a 30 horas de crédito em estudos a cada 7 anos para manter-se empregada com boa remuneração na emergente economia do conhecimento (Lick, 1996).
A tecnologia da Rede Mundial de Comunicação é singularmente adequada para ajudar os estudantes a se tornarem aprendizes ativos, renovando e expandindo constantemente seus conhecimentos. No ensino superior, um dos usos mais comuns da Web é o de ajudar o estudante em suas pesquisas. Uma ampla variedade de bases de dados, contendo fontes e indicações, faculta o acesso a informações disponíveis a respeito de imensas áreas do conhecimento humano. Nas bases de dados online há resumos de artigos e de livros, artigos e revistas na íntegra, comentários e críticas de especialistas, relatórios e informações estatísticas. Mediante consulta a listas de correio eletrônico, páginas pessoais, documentos em hipertexto e outros sítios da Web os estudantes podem entrar em contacto com colegas e especialistas para obter informações adicionais a respeito de qualquer assunto. O conhecimento é sintetizado através de uma rede de idéias, fontes de dados, informações e interpretações que se encontra interligada por meio de intercâmbio constante com os demais usuários (Hawkins, 1993).
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